quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Iperó, 16 de janeiro de 2014

Quando o juiz assina uma sentença, firma-se, por assim dizer, um contrato: de um lado o prisioneiro cumpre a sua parte cumprindo a sentença no cárcere. Do outro lado, o governo (tanto executivo quanto judiciário), que quebra todas as suas obrigações, deixando os condenados abaixo da linha da indigência.

A tortura psicológica é formidável, num ambiente propositalmente insalubre e reativo.

O prisioneiro paulista não tem o direito a uma cadeira ou banco. A opção é viver em pé ou deitado/sentado no chão de concreto. Depois de pouquíssimo tempo todos os ossos do corpo começam a doer. 
Imagine passar anos nessas condições!

É importante declarar que sempre fui tratado com todas as regalias dos que não tem potencial de periculosidade, por ser reconhecido como não criminoso. Na gíria de cadeia "zé povinho". Minha experiência é de convívio com a parte mais branda do sistema. Existem cantos deste vale de sombras onde homens são tratados como sobra do que comem os porcos.

Mas, voltando ao meu testemunho, viver literalmente confinado, dezoito horas por dia, dentro de uma LATRINA de oito metros quadrados, descontando o espaço da treliche de alvenaria no meio do "barraco", com oito indivíduos, é experiência que poucos suplantam, é desumano.

O termo LATRINA não é exagero, pois um quarto escuro, com porta de chapa de aço, quatro míseras ventanas de 10 por 30 centímetros na parte da frente, uma janela com grade de aço fechada permanentemente com vidro blindex de aproximadamente 80x100cm, dotado de vaso sanitário e um chuveiro frio de plástico e uma torneira é principalmente um banheiro.
A treliche de concreto é acessório.

Na maioria das casas o banheiro tem essas dimensões, quando não maiores.

O ambiente da cela é inevitavelmente úmido e o cheiro de mofo é padrão.

A válvula de descarga, apesar de funcionar, fica sempre bloqueada. A falta de água é diária, assim como a eletricidade, que cai o tempo todo.

Uma analogia que faço sempre é com a defesa dos animais: se na Babilônia (nossa sociedade) alguém confinar animais nas condições dos presídios paulistas, esta pessoa seria denunciada por maus tratos.

Insetos infestam o ambiente do cárcere; baratas enormes saem do ralo todas as noites; percevejos em profusão sugam a gente durante o sono e os escorpiões são visitantes frequentes do local. O único mamífero que interage com os presos são os ratos, de todos os tamanhos.

A super lotação cria um clima de tensão constante, tanto dentro como fora das celas. 

O ambiente é abafado e fétido e deixa a vida na cadeia no limiar do insuportável.

Um comentário:

  1. Continue denunciando essa barbárie - isso há de ser muito importante!!!

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