segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Iperó, 13 de novembro de 2015

Totalmente debilitado, depois de quinze dias de tortura mental e física no Sistema de Trânsito Penitenciário do Estado de São Paulo.

Palavras do primeiro preso político do terceiro milênio, guerrilheiro filosófico neo-abolicionista canábico travestido de traficante, inimigo número 1 do Ministério Público de Americana, herege e torturado.

Palavras do filho de Jah - Rastafári!!

06/11/2015

Histórias do cárcere pré-democrático.

20:30hs - Cela 2 do trânsito de Guareí. 3ª burra (cama) da treliche do fundo. Lugar infecto, onde o mofo, umidade e ácaros abundam. Vinte desgraçados amontoados em espaço porcamente projetado para nove.
Estou absolutamente esgotado depois de passar por mais um dia literalmente torturante no trânsito penitenciário paulista.
Saímos do CDP de Americana por volta das 10 horas, rumo ao Complexo Penitenciário de Hortolândia.
Só a saída da desumana cela 1 do trânsito até o "latão" (caminhão furgão) já é experiência dantesca, coisa de campo de concentração japonês da segunda guerra mundial.
É o primeiro ato do teatro de horror do sistema de trânsito penitenciário tucano paulista. A tortura física e psicológica é rotina na operação de translado judicial.

A lei brasileira não permite tais modus operandi nem para animais: falta a placa indicativa obrigatória "carga viva", normalmente encontrada nos veículos do gênero, quando se trata de bichos.

Claustrofobia é terminologia que não traduz a totalidade da situação. Algemados uns aos outros, sentados em cubículos construídos de chapas metálicas, sem luz ou ventilação, amontoa-se os apenados.
É o mais perto que se pode chegar das câmaras de gás nazistas (só falta o gás).
Podemos sentir o ar carregado do abominável espírito nazista.
Nesta peça bizarra, não poderia faltar a ação do pelotão de escolta, que se iguala em forma e atitude à famigerada Gestapo hitleriana.

Segundo ato:

Depois de ficarmos 1 hora parados, sob sol forte, dentro do tal "chapão" no CDP de Americana e aproximadamente 25 minutos de viagem, chegamos à "sala de estar" do inferno: um lugar conhecido como "rodoviária" na P5 de Hortolândia. Local onde convergem todas as rotas de transporte carcerário do Estado de São Paulo. Movimento frenético de caminhões chegando e saindo, abarrotados de animais do gênero humano.

Ali, esperamos por mais de uma hora dentro de pocilgas metálicas, no escuro, com calor abrasador e ar estagnado, antes de passar para dentro do espaço de baldeação.

Quando as portas do "baú de carga" se abre, dessemos algemados de dois em dois e recebemos ordem para tirar os chinelos, ficando, propositalmente, descalços. Pegamos, então, uma das "picuias" (sacolas plásticas com os pertences pessoais), amontoadas do lado de fora.

A atitude e os olhos dos agentes penitenciários e PM's da escolta destilam ódio e sarcasmo.

Entramos num lugar semelhante aos bretes de gado nos rodeios.
Ali somos colocados, ainda algemados, em cubículos de aproximadamente 15 metros quadrados. Tem-se a impressão que estas celas foram construídas com a única intenção de tortura psicológica.
Neste exíguo espaço amontoa-se, às centenas, a carga humana a ser transladada.
Lugar de cobertura baixa com telha metálica, para proporcionar o máximo de temperatura possível; um vaso "sanitário" sem descarga e uma torneira com ralo de drenagem acima do nível do piso para que, propositalmente, o ambiente permaneça alagado com água suja e urina.
Os presos, comprimidos com sardinha em lata, ficam descalços, pisando naquela sopa de bactérias por horas à fio. 
Alimentação, só no olfato, pois o refeitório dos agentes fica ao lado.
Uma hora e meia após fazerem a regulamentar refeição, os bem alimentados agentes que nos trouxeram até ali, passam para sacar as algemas dos miseráveis que estão indo e colocá-las nos que estão retornando.
São dezenas de rotas que se cruzam neste nefasto lugar.

Terceiro ato:

Depois de infindável espera, em pé, com média de sete a oito homens por metro quadrado, o "bonde" que nos levará à penitenciária de Guareí começa a ser armado.
De dois em dois, somos mais uma vez algemados e colocados no "latão".
Um furgão recém-reformado, onde internamente foi aplicada um camada fresquinha de "undersil", um impermeabilizante preto à base de petróleo, tornando o ar do ambiente interno altamente tóxico. Experimentamos a nítida impressão de estarmos numa câmara de gás (Hi, Hitler!).
O "gentil" agente motorista nos informa que assim que ligar o motor do caminhão, ele acionará a minúscula ventuinha, coisa que só acontece cinquenta minutos mais tarde, momento em que nos colocamos a caminho da famigerada prisão de Guareí.
Esta segunda parte da viagem dos desesperados dura duas horas, com náusea e vômito dos passageiros da agonia.

Por volta das 18 horas chegamos à temporária enxovia, onde ficarei por uma semana, até começar a epopeia da parte final da desumana viagem que me levará de volta à penitenciária de Iperó, meu destino.

Quarto ato:

Depois da corriqueira humilhação do processo de descarga dos apenados, somos trancafiados numa cela que mais parece um buraco imundo, onde impera a umidade e o cheiro de bolor.

Estamos em vinte e temos que agradecer a sorte pois, às vezes, a ocupação da cela, chamada também de sarcófago, por causa do desenho que lembra um caixão de defunto, pode chegar a mais de 30 desgraçados.

Epílogo:

Às 20:30 horas, quando achamos que, acomodados, estaríamos prontos para um pouco de descanso, a tortura psicológica continuou por infinitas horas. O desespero toma conta de todos, pois um preso que se encontra no "pote" (cela de castigo), anexo, resolve se suicidar, espalhando o horror pela Unidade de Trânsito"

Espero que a noite passe logo e a Luz do dia nos traga um pouco de alento.

2 comentários:

  1. Assim seja, Ras. Que o ;Senhor faça-nos triunfar sobre as dificuldades e perseguições impostas pelos inimigos da verdade.
    Jamais dorme aquele que nos guarda.

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