Nós
não podemos realmente nos entender, a não ser que conheçamos as
nossas próprias raízes espirituais.
Qual
o conteúdo espiritual que é evocado pelo nosso inconsciente, é
questão de destino individual, tendo tudo a ver com a época, o
tempo em que vivemos.
Os
arquétipos deste conteúdo residem neste tempo e espaço.
Por
este motivo, o rastafarianismo é tão presente nos dias atuais. Ele
tem relação com as experiências mais recentes do inconsciente
coletivo, de um povo que encontrou, na vivência espiritual
ancestral, a tábua de salvação para as provações impingidas por
seus algozes.
Neste
contexto, para dar sentido ao tremendo sofrimento da experiência da
escravidão, do exílio, das punições inumeráveis, o rastafari se
apega à única fonte de esperança possível de explicação, o
espírito, a alma humana; fazendo da numinosidade de Jah a morada da
resignação e luta.
Apesar
da consolidação de Haile Selassie I como ícone profético se
estabelecer como base religiosa no ínicio do século passado, o
sentimento divino da fé em Jeová vem desde a colonização da
Jamaica e a consequente escravização dos irmãos africanos enviados
para o trabalho nas Antilhas.
Este
sentimento é fundado no Velho Testamento onde a figura monoteísta
de Jah se encontra no coração do ser humano, diferente da
compreensão cristã que coloca Deus nas alturas, no céu.
Nesta
singular concepção numinosa é criada a figura do “Eu e Eu”,
que nada mais é que a unidade do “Espirito Santo”.
Assim
o Rastafari vê e compreende a consciência humana, de forma
interior, de dentro para fora, compreendendo o mundo exterior como
formado por matrizes de diversas verdades.
É
nesta coagulação de várias verdades que o “Eu e Eu” busca
sempre a divina “Real Verdade”.
Jung
define bem este sentimento ao afirmar que “a vida é multifacetada
e, entre as muitas verdades possíveis relativas à vida humana,
depende daquilo que é a verdade naquele momento para aquela
determinada pessoa.
O
Eu e Eu, o Espírito Santo é o sentimento mais forte presente no
rastafarianismo. O rastafari tem a necessidade de contato constante
com esta divina relação com seu inconsciente. Por isso que,
diferente de outras religiões onde a pessoa dedica parte do seu
tempo para as atividades religiosas, o rastaman é rastafari em tempo
integral. É o que chamamos de “bushman” ou “homem santo”.
Para
se chegar neste caminho, onde o consciente se encontra com o
subconsciente é que a Erva Sagrada, a Ganja, ou como é
negativamente chamada no Brasil de “maconha” é usada.
Neste
processo, a ganja é um canalizador. É através dela que se chega ao
estado numinoso, onde o homem encontra e percebe o Espirito Santo.
Este
é um dos mais antigos exercícios de espiritualidade que o ser
humano já experimentou. Tão ou mais antigo que a nossa própria
percepção do consciente/subconsciente.
Existem
incontáveis relatos do uso da erva como canalizador espiritual na
antiguidade. A Bíblia é recheada de passagens citando a cannabis em
rituais, de Genesis ao Apocalipse.
Antes
da formatação do Velho Testamento já encontramos referências
religiosas à maconha. Em documentos Babilônicos e Ititas, que
retratam a epopéia de Gilgamesh, escritos a cerca de 6.000 anos,
encontramos referências da cannabis como a “Erva da Vida” e
“Erva do Rejuvenescimento da Vida” (fonte: livro O significado
arquetípico de Gilgamesh, por Rivkah Scharf Kluger, pag.194).
Heródoto,
estudioso que viveu no século XI, escreveu o que podemos compreender
como o maior compêndio da História da Religião na antiguidade.
Relata o uso da maconha presente em quase todos os cultos religiosos
dos primórdios da humanidade.
Podemos
afirmar com tranquilidade que o relacionamento do ser humano com a
erva é anterior à nossa saída do paraíso. Fato relatado por
Moisés, Velho Testamento, como a “Árvore da Vida” (Gênesis
2,9).
Nesta
linha de raciocinio podemos vislumbrar que também no Novo Testamento
encontramos as referências da planta sagrada.
E,
entre todas as citações, de vários apóstolos de Cristo, a mais
significativa está na última página da Bíblia, em
Revelações/Apocalipse 22:2 - “No meio das ruas da cidade, de cada
lado do rio, lá estava a árvore da vida, que produz doze frutos
diferentes, dando cada mês seus frutos; e as folhas da árvore são
para a cura das nações.”
Podemos
seguir o texto até o final, é só procurar que está lá, no “Livro
da Vida”.
Nele
“Eu e Eu” acredito, nele “Eu e Eu” me glorifico, na unidade
do Espirito Santo.
Que
a santa paz de Jah nos inunde!
RastafarI
(Texto
escrito no presídio de Americana por Ras Geraldinho em 02.11.2012)
como eu queria te conhecer pessoalmente ras... seus textos estão me trazendo profunda clareza!
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