Desde
o limiar de nossa consciência, a humanidade tem se relacionado com a
Cannabis de forma venerável, pois, de todas as plantas que o homem
experimentou, e podem ter certeza que experimentamos todas, ela é a
de maior benefício.
De
alimento a remédio, de vestimenta a utensílio de guerra, são
catalogados mais de vinte e cinco mil produtos derivados da planta.
Há dois mil anos já se conhecia muitas utilidades, no livro do
Apocalipse do Apóstolo João, encontramos esta afirmação: 22-2 “No
meio das ruas, e de cada lado do rio, estava a Árvore da Vida, que
produz doze frutos diferentes, dando todos os meses seus frutos e as
folhas da Árvore eram para a cura das nações.”
Entre
os incontáveis usos, alimento e remédio são as mais nobres de suas
utilidades. Alimento e remédio para o corpo e, principalmente, para
a alma.
Quase
todas as religiões da antiguidade usavam a Erva Sagrada como
sacramento.
Heródoto
(480AC), historiador grego designado como “Pai da História”
realizou grandes viagens pela Ásia, europa, África, o Bósforo e a
totalidade da Grécia, foi amigo de Péricles e Sófocles. Escreveu
conpêndio com nove livros sobre as antigas civilizações, onde fez
muitos relatos do uso da Cannabis na liturgia das antigas religiões
e nos cultos ancestrais.
Outro
grande historiador das religiões, o romeno Mircea Eliade, tendo como
suas principais obras: “História das crenças e das ideias
religiosas (1975)” e “O mito do eterno retorno (1949)”, afirma
categoricamente que a Erva Sagrada era parte fundamental dos cultos
antigos e que permanece até hoje nas mais diversas religiões.
Egipcios,
celtas, árabes, hindus, africanos, praticamente todas as culturas
usam a Erva como canalizador com o numinoso (divino).
A
cultura religiosa Judaica-Cristã é liturgicamente entrelaçada com
a santidade da Erva. No Pentateuco (Velho Testamento) ela é citada
inúmeras vezes. No Paraíso existiam duas plantas: A ´´Arvore da
Sabedoria”, que é a consciência divina e a “Árvore da Vida”,
que garantia todo bem e saúde ao homem. Sem dúvida era a Cannabis.
Moisés
conversava com Deus através de um arbusto em chamas. Qual seria este
arbusto?
Para
receber a iluminação dos Dez Mandamentos, ele passou vários dias
no Monte Sião coberto por uma nuvem. Nuvem de fumaça da queima da
Erva que cobria toda aquela região.
Canaã,
a Terra dos Cananeus, citada centenas de vezes, quer dizer Terra da
Cannabis, pois era a cultura agrícola da região.
A
Erva era usada de formas diversas na liturgia, mas principalmente
como incenso e óleo de unção, que eram empregados em diferentes
formulações. Em Êxodos 40 temos uma boa ideia destes usos. Também
era usada como oferta de sacrifício na forma de pão e na chamada
flor de farinha.
Assim
como no Antigo, o Novo Testamento é repleto de citações sobre a
Planta Sagrada.
Uma
passagem digna de referência é encontrada em três lugares
diferentes na Bíblia, nos Evangelhos de Mateus (12-1~4) Marcos
(2-23~26) e Lucas (6-1~5), que dizem o seguinte: Jesus caminhava com
seus discípulos por uma plantação (seara), colhiam espigas,
debulhavam nas mãos e as comiam, quando foram interpelados por um
fariseu...
Neste
caso, é patente se tratar da Cannabis, porque espigas que podem ser
comidas in natura é só a dela. Trigo não dá para se comer desta
maneira, tão pouco o milho, que não comemos crú e é uma planta da
América Central descoberta pelos europeus 1.500 anos depois de
Cristo.
No
século V um monge-teólogo que usava a alcunha de Pseudo-Dionisio
escreveu extensa obra (O Areopagita), que muitos afirmam ser a
síntese teológica que tornou-se o nascedouro da iniciação e da
constituição da mística cristã. Trabalhava com a teoria do
abandono da percepção e da razão, a chamada Via Apofática.
Seu
legado influencia tanto o cristianismo que Tomás de Aquino o
menciona cerca de 1700 vezes em suas obras. Pseudo-Dionisio afirma a
importância do uso do incenso e do óleo de unção na Liturgia da
Tearquia. Sobre o uso do óleo, que ele julga de extrema importância,
o monge dedica um capítulo inteiro, com o título “Sobre aquilo
que se realiza graças aos Santos óleos e as consagrações as quais
eles servem.”
Vejamos
alguns trechos:
“Tal
é, pois, a grandeza da Santíssima Comunhão, e tais são os belos
espetáculos pelos quais temos lembrado muitas vezes. Ela eleva nossa
inteligência até o Uno, graças a estes ritos hierárquicos que nos
fazem entrar em comunidade e em comunhão com ele. Mas existe outra
consagração que pertence à mesma ordem: nossos mestres a chamam de
sacramento da unção.”
“O
sumo-sacerdote toma, então, o óleo santo, coloca-o sobre o altar
dos divinos sacrificios sob a proteção de doze asas santas.”
“O
ensinamento espiritual ao qual nos eleva este rito consecratório da
santa benção do óleo, é, creio, o de nos mostrar que os homens
piedosos guardam secreto o bom odor de sua santidade intelectual.”
… “e,
assim, graças ao símbolo do óleo divino, inicia-se santamente nos
mistérios infinitamente sagrados que a Igreja assim dissimula.”
Importante sabermos também que estudos e pesquisas antropológicas
da atualidade indicam que Jesus Cristo usou a Erva Sagrada em vários
dos seus conhecidos milagres.
A
África é o berço da religiosidade humana. Desde a Abissinia, um
dos impérios mais antigos do mundo, os africanos usam a Cannabis
para a conexão numinosa (divina).
Foram
eles que, quando escravizados, trouxeram a Erva para a América.
No
Brasil, o uso da Planta Sagrada era parte importante dos rituais de
umbanda e candomblé, até 1937, quando houve a proibição.
Os
“preto velho” usavam diamba no cachimbo, depois foram obrigados
ao uso do tabaco. Os cablocos (orixás das matas) usavam Cannabis,
não charutos, como hoje em dia.
Assim
como ocorreu aqui, foi também nas Antilhas. A única diferença foi
que, para lá foram enviados os povos do leste da África, com uma
orientação religiosa diferente. Os africanos que lá chegavam eram
predominantemente etíopes, com base de fé no Velho Testamento e
intimidade enorme com a Erva em seus cultos. Vem daí a predileção
dos Rastafáris pela “Ganjah”, a erva que nos une a Jah.
Podemos
perceber que a história da humanidade é entrelaçada com a
Cannabis, principalmente se tratando de religiosidade, pois, na
antiguidade a ação religiosa e a medicina se confundiam. Tanto é
que o símbolo da medicina vêm da Erva. No ícone médico, o cajado
é o caule da Cannabis, oriundo de curandeiros japoneses que usavam o
cajado (de cânhamo) amarrando na ponta um grande punhado de buchas
para os rituais de cura.
Esperamos
que, em breve, a inteligência humana prevaleça e esta ignorante
proibição acabe.
Acabando
com ela, a violência e o carma negativo, criado unicamente pelo
interesse do poder econômico devastador.
Que
jah derrame suas bençãos sobre nós e a iluminação prevaleça!
Eu
e eu
Ras
Geraldinho
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