terça-feira, 12 de março de 2013

HEMP-OIL – O ÓLEO DA UNÇÃO

A Cannabis acompanha a humanidade desde sua saída do paraíso.
Primeiro cultivo dos grupamentos hominídeos, esta planta nos deu alimento, roupas, proteção, cura, artefatos de engenharia e êxtase.

Com todos estes atributos, não é de se espantar que desde os primórdios das civilizações ela tivesse relevante papel sacramental nas religiões.

Na pré-história, a planta já era tida como sagrada, garante Mircea Eliade, especialista em história das religiões, sendo ela usada ritualisticamente pela maioria das crenças da antiguidade.

As religiões da India, China, África e Oriente Médio sempre usaram a Cannabis como canalização para a experiência numinosa.

Antes da proibição da planta no Brasil, em 1937, a defumação dos terreiros de umbanda era feita com a Erva e no cachimbo do Preto Velho não tinha fumo, o que se pitava era a Diamba.

Não diferente são os costumes Judaico-Cristãos. Tanto o Pentateuco quanto outros livros sagrados judeus, como a Biblia Cristã, são repletos de citações da planta.

Começando em Gênesis e como última citação em Revelações (apocalipse) 22-2 lá está a Árvore da Vida.

Moisés foi um dos maiores difusores do seu uso ritualistico, estando ela presente nos cinco livros.

O interessante é que a planta sagrada é usada de duas maneiras: como incenso e como óleo de unção.

Exodus 40 é abundante no uso dos dois elementos, o óleo e o incenso, onde tudo e todos são ungidos pelo óleo, e a fumaça é constante no Tabernáculo. Seria até enfadonho fazermos a citação de todas as passagens, pois são inúmeras as referências.

Porém, em relação ao incenso, fumaça, existe a passagem de Pentecostes que é exemplar, que em resumo diz: “setenta profetas no Tabernáculo, cada um com turíbulo (incensário) em sua mão e uma língua de fogo se acendeu na cabeça de cada um.

Quanto ao uso dos santos óleos encontramos sábia referência nos textos de um monge que viveu no século quinto, que por razões de anonimato usava a alcunha de Pseudo-Dionisio. Este clérigo, identificado como filósofo-teológo é reconhecido como o construtor da iniciação da mística cristã.

Em sua obra intitulada “O Areopagita” ele descreve a real importância do óleo na liturgia, que transcrevemos:

Capítulo 4: -
“I- Sobre aquilo que se realiza graças aos santos óleos e as consagrações às quais eles servem.”
“Tal é, pois, a grandeza da Santíssima Comunhão, e tais são os belos espetáculos pelos quais temos lembrado muitas vezes. Ela eleva nossa inteligência até o Uno, graças a estes ritos hierárquicos que nos fazem entrar em comunidade e em comunhão com ele. Mas existe outra consagração que pertence à mesma ordem: nossos mestres a chamam de sacramento da unção. Quando examinamos de maneira sistemática as santas imagens que no-lo representam, a multiplicidade destes símbolos nos elevará por meio da contemplação hierárquica até o Uno.”

“II- Mistério do Sacramento da Unção”
Como para a comunhão, as ordens menos perfeitas são excluídas assim que os membros da hierárquia tiverem espalhado santos perfumes (incenso), em torno do templo, que se cantou piedosamente os salmos e que se fez memória das Santíssimas Escrituras. O sumo-sacerdote toma, então, o óleo santo, coloca-o sobre o altar dos divinos sacrificios sob a proteção de doze asas santas.
Entretanto, a assembléia inteira faz reboar o cântico de hino santíssimo que o próprio Deus inspirou aos profetas.
Tendo consagrado o óleo por uma santíssima invocação, ele o utiliza para as mais santas consagrações litúrgicas, por ocasião de quase todas as cerimônias hierárquicas.”

III- “Contemplação”
“ O ensinamento espiritual ao qual nos eleva este rito consecratório da santa benção do óleo, é, creio, o de nos mostrar que os homens piedosos guardam secreto o bom odor de sua santidade intelectual. Porque o próprio Deus prescreve aos santos não pôr à vista por vão esforço de glória a beleza e o bom odor do esforço virtuoso pelo qual eles tendem à semelhança do Deus oculto. Essas secretas belezas divinas, cujo perfume ultrapassa toda operação da inteligência, escapam, realmente, a toda profanação; elas não se revelam senão à inteligência daqueles que tem o poder de compreende-las, porque lhes convém não se refletir em nossas almas a não ser através das imagens que se lhes assemelham e que tenham, como elas, a virtude da incorruptibilidade.”

“Ora, a representação desta virtuosa conformidade com Deus não desenha, de fato, a imagem autêntica de seu modelo a não ser quando a alma fixa seu olhar nessa Beleza inteligível e perfumada; porque somente a este preço ela pode imprimir e reproduzir em si mesma as mais belas imagens.”

“A contemplação atenta e constante dessa Beleza perfumada e secreta é que permite atingir a exata semelhança do modelo, a perfeita conformidade divina.
… contudo, se praticam as virtudes que a imitação de Deus exige, não é de modo nenhum para se dar em espetáculo aos homens, segundo as palavras das Escrituras (MT 23-5) e, sim, graças ao símbolo do óleo divino, para se iniciar santamente nos mistérios infinitamente sagrados que a Igreja dissimula.

“Que dizer ainda? Não é verdade que consagrando os óleos procede-se conforme os mesmos ritos que para a comunhão? Nós já o recordamos.”

“Assim a composição simbólica dos santos óleos, dando de algum modo figura àquilo que é sem figura, mostra-nos de maneira figurada que Jesus é a fonte fecunda dos divinos perfumes, que é ele próprio que, na medida que convém à tearquia, difunde sobre as inteligências que atingiram a maior conformidade com Deus e os divinos eflúvios que seduzem agradavelmente as inteligências e que as dispõem a receber os dons sagrados e a se saciar com um alimento intelectual, cada potência intelectiva recebendo então as efusões odoríferas, segundo a parte que toma nos mistérios divinos.”

Para o monge-filósofo Pseudo-Dionisio, tanto o incenso quanto os santos óleos são parte do sacramento religioso. Poderíamos dizer que são canalizadores para com o numinoso (o divino). Suas exegeses (textos), baseados no platonismo, influenciaram toda teologia posterior, são marcadas pela crença de que o ser humano aproxima-se de Deus através do abandono da percepção e da razão, a chamada via apotática.

(Bibliografia: “Obra Completa – Pseudo-Dionisio o Areopagita – Editora Paulus – 2004)

Que a glória de Jah se derrame sobre nós!

Ras Geraldinho
Rastafari

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