segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Dia 13 de dezembro de 2014

2 anos e 4 meses de injusta prisão política.

Dia atípico, de energia reativa negativa no Raio I da Penitenciária Odon Ramos Maranhão.

Briga fútil e mesquinha na cela, envolvendo minha pessoa, logo no amanhecer.

Durante o banho de sol, desrespeitando a oração diária, uma briga aberta que se alastrou pela quadra, num movimento de "deixa disso" e truculência.

No futebol diário não poderia ser diferente: jogo disputado com excesso de testosterona e falta de fraternidade, gerou um número fora do normal de faltas violentas.

E estamos no meio de uma gritaria generalizada.

Isso tudo apenas às nove e meia da manhã.

Só nos resta esperar por mais um dia aqui na masmorra paulista de Iperó.

Como diz meu irmão Buri: "O dia está apenas começando..."

Iperó, 17 de dezembro de 2014

Dois anos e quatro meses como preso político do Brasil.

Hoje passamos um dos dias mais tensos aqui na Penitenciária Odon Ramos Maranhão.

O presídio todo permaneceu fechado toda a manhã. Nem o magro café da manhã foi servido.

Como a última alimentação tinha sido às 16:30 horas do dia anterior, ficamos mais de vinte horas privados de qualquer tipo de alimento.

Um dia de blitz geral.

A tensão podia ser sentida no ar.


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Iperó, 20 de novembro de 2014

Comemorando o Dia da Consciência Negra atrás das grades do desgraçado Sistema, condenado pela injusta justiça repressora. Motivo: viver sobre os preceitos religiosos da divina cultura Rastafari do Espírito africano, da raça negra.

Esta é a distorcida realidade do início do terceiro milênio. É triste, é revoltante, é desesperador.

Vivemos numa época de exacerbação da propaganda que anestesia a "Real Verdade", substituindo-a por uma virtualidade desumana, que pinta uma pseudo liberdade sobre o manto de ferro do Sistema repressor.

Infelizmente, vivemos num mundo de faz-de-conta, numa realidade virtualizada, onde a verdade é mentira e a graça jaz refém da desgraça.

Verdade? Mentira!

O Brasil é uma democracia laica?
O Brasil é regido por uma ditadura monetária de controle social cristão!

O futebol é a paixão nacional e gera felicidade?
O futebol amortece anseios de iluminação coletiva, drena volume descomunal de recursos da economia global, gera corrupção, racismo, ódio e morte!

Os políticos são eleitos democraticamente pelo voto direto?
Os políticos alavancam seus poderosos cargos através de enxurrada de dinheiro, propaganda mentirosa e desavergonhada corrupção!

As drogas matam?
As armas matam! As armas da violenta repressão institucional e das gangues de traficantes que atuam no palco do teatro da desgraçada "guerra às drogas".

As duas substâncias que realmente devastam a sociedade são as duas que recebem o verniz de legalidade: o álcool e o tabaco.

É importante salientar que no caso do tabaco, caímos também na mentira institucional, pois o que mata, na verdade, é o coquetel de veneno aplicado no processo produtivo: as 4.500 substâncias químicas reconhecidas e declaradas pelo Ministério da Saúde.

Qualquer pessoa com um grau de conhecimento mediano em química e ciências sabe que a base de qualquer experimento científico é o isolamento do objeto estudado. No caso do estudo sobre o tabaco, a pesquisa é feita com o material contaminado e apresentando como verdadeiro.

Assim, a opinião pública é descaradamente enganada, a indústria tabagista se locupleta e quem paga a conta é o cidadão, que por questões de pré-disposição genética, assim como no caso da Cannabis, faz uso do fumo como auto medicação.

Iperó, 30 de novembro de 2014

Tento descrever o dia a dia do Sistema Prisional Paulista no início do terceiro milênio, mas pouco consigo retratar.

A parte institucional é fácil de descrever: corrupta, desumana, medieval, insalubre, cruel, descontrolada, nojenta, mórbida e algumas dezenas mais de adjetivos negativos que ilustram a macabra situação da entidade repressora.

O cotidiano da família prisional é a parte de difícil registro: uma dinâmica social própria tão peculiar que encanta pela crueza e pelo inter-relacionamento comum.

Imaginem a vida num caldeirão de concreto com mais ou menos mil metros quadrados de área comum, com quarenta e seis celas, onde vive, convive e sobrevive uma população superlotada de aproximadamente trezentos e sessenta indivíduos.

São, na maioria, oito homens com formação cultural e antropológica das mais diferentes matizes, vivendo dezoito horas por dia num espaço de nove metros quadrados, onde metade do espaço é ocupado por uma treliche de concreto.

(Ras Geraldinho não completou o texto)